Rodrigo Strauss :: Blog
Vista a camisa da empresa se puder
Em um dos meus últimos posts eu coloquei um link para meu post "Eu não visto a camisa da empresa", e acabei por consequência revivendo-o. (Blogs têm esse problema de navegação, os post antigos ficam adormecidos até que alguém os ache pelo Google ou que você coloque um link para ele). Esse post, juntamente com o "Os contos que as empresas contam" gerou bastante discussão sobre o relacionamento entre funcionário/consultor e empresa e a postura de cada um, já que no post eu coloquei qual foi a postura que eu adotei depois das pouco mais de 10 empresas onde eu trabalhei com informática desde que eu tinha 15 anos, que foi quando eu comecei.
Não sou muito de re-explicar meus posts, mas um comentário colocado no post "Eu não visto a camisa da empresa" me fez escrever uma resposta tão grande que eu resolvi transformar em post, por dois motivos. Um é para dar oportunidade de gerar mais discussão sobre o tema. O outro é que eu acho que o respeito com que o Daniel abordou o tema merece uma resposta e uma consideração. Da mesma forma que o mais comum é as empresas não respeitarem seus funcionários, o mais mais comum é não ter muito respeito nos comentários quando a opinião não é igual a minha. Recomendo que você leia o comentário do Daniel antes de ler o resto desse post.
Segue aqui minha meio-resposta-meio-post-meia-calabresa:
Muito do que eu escrevo aqui no site são coisas que eu gostaria de ter lido quando eu tinha menos experiência no mercado, mas ninguém escrevia. Exemplos claros são os FAQs sobre C++, Win32, COM, ATL, etc. Muitas pessoas não estudam coisas que gostariam porque não sabem por onde começar. Então eu tento dar um começo para as pessoas, como em "Como ser um programador".
Sobre o posts "Eu não visto a camisa da empresa" e "Os contos que as empresas contam", eu quero passar para as pessoas as más experiências que eu passei, para que elas tentem perceber essas situações quando elas estiverem acontecendo. Eu já passei por várias situações (e empresas) como as que eu citei. Infelizemente o mundo não está cheio de pessoas honestas, e eu conheço muita gente que já passou por essas situações. Existem MUITAS empresas de software que não dão o menor valor para seus programadores, MUITAS mesmo. Como já disse o Joel, tratar cientistas de foguete como crianças é uma péssima idéia. Não se esqueça que essas "crianças" podem colocar o curriculum na APINFO e desaparecer em uma semana. Quem mais perde com isso são as empresas e seus super-administradores.
Existem também pessoas que têm sorte e conseguem trabalhar em uma empresa que dá valor aos seus funcionários e onde o ambiente de trabalho é bom. Essas pessoas podem e devem vestir a camisa da empresa, afinal, a empresa veste a camisa dos funcionários. Foi exatamente isso que eu disse. Algumas partes do post podem ser "radicais", mas eu explico meu ponto de vista em várias pontos, como "não visto a camisa de empresa nenhuma pelo simples fato de que nenhuma empresa até hoje vestiu a minha camisa". O motivo é simples. Quando vestirem, eu visto também. Eu já cansei de me dedicar sem receber nada em troca. Eu, como qualquer programador normal, só peço que me deixem programar em paz.
As pessoas com mais tempo de mercado e mais vivência não precisam muito das informações que eu tentei passar nesses posts. Mas quem está começando precisa. Eu precisava quando comecei e não tive. Eu e muita gente que eu conheço foi iludida. E isso não é muito difícil, porque eu gosto muito do que faço e uma promessa de um projeto interessante muitas vezes vale mais pra mim do que uma promessa de aumento de salário.
O Daniel cita no comentário que "nenhum trabalhador (em qualquer area) que possa se dizer dedicado e concentrado, tem tempo pra ficar lendo noticias do Slashdot "dezenas de vezes por dia"". Eu discordo e vou explicar o motivo. Slashdot fala sobre tecnologia, sobre meu trabalho. Todo economista DEVE ler muito sobre economia. Se um programador passa o dia lendo sobre esportes (conheço alguns assim), aí sim é um problema. Muitas das coisas que eu sei hoje se devem ao Slashdot, CNET, OSNews, MSDN Magazine, The Register, ArsTechnica, aos blogs que eu leio (Raymond Chen, Joel Spolsky, Eric Lippert, Mark Russinovich, etc). Isso obviamente toma tempo (não muito quando você usa RSS), mas minha visão como arquiteto de sistemas é muito mais ampla do que a de muita gente pelo fato de eu conhecer diversas tecnologias e me manter MUITO bem informado. Por exemplo, eu sei o que é AJAX e ATLAS e o cara que trabalha com ASP/HTML/JavaScript aqui na empresa não sabe. É importante se manter bem informado, é importante ler sobre tecnologia. Eu respiro tecnologia 24 horas por dia, e isso me ajudou inúmeras vezes e vai continuar ajudando. Além disso, os melhores programadores e arquitetos que eu conheço têm a mesma atitude quanto à isso. Eu recomendo que quem quer ser um bom programador faça o mesmo, mantenha-se informado. Sem deixar de programar é claro. "Dezenas de vezes" ao dia é quase uma hipérbole, e para ser um bom programador é preciso programar muito dia e noite. (Se eu não passasse o dia (e a noite) programando eu não teria conhecimento técnico para escrever o que escrevo no site, e teria mais um desses "blogs de tecnologia" pt-br que só repete os sites de notícias e anuncia eventos)
Meu ponto foi e continua sendo: se você acha que vale a pena vestir a camisa, vista-a. Note que o "vale a pena" é um conceito muito pessoal. Isso pode "valer a pena" para uma pessoa pelo simples fato de ela ter um emprego. Minha decepção vem justamente do fato de eu ter tentado "vestir a camisa da empresa" várias vezes e não ter visto retribuição alguma. Vista a camisa da empresa se puder.
Em 08/11/2005 18:14, por Rodrigo Strauss





O problema todo é que mentes indomáveis e inquietas não aceitam simplesmente o fato de passar 8, 10, ou 12 horas trancadas em uma sala, na frente de um computador, dando o melhor de si, deixando a vida "passar", em função de uma empresa em que não reconhece esse empenho, que as considera somente mais uma dentre as várias mentes disponíveis. Acham que pagando o salário, adquiriram escravos. Há empresas que parecem ignorar o fato que de que ninguém nasce programando e que, para se tornar um bom programador, são necessárias muitas, e muitas, e muitas horas de dedicação. Isso passa despercebido, gerando nas tais mentes inquietas frustração. Mas ainda bem que são inquietas, pois não ficam muito tempo servindo de capacho para empresas mesquinhas. Logo vão em busca de novos horizontes, e o que fica é a experiência. Para as tais empresas, restam os programadores que se contentam com a "oportunidade" que tiveram. Mas quem sabe alguns deles não são mentes inquietas também...
Um tal de Charlie Chaplin disse uma vez, num discurso em um filme, "Não sois máquina! Homens é que sois!". Muito pertinente...