Rodrigo Strauss :: Blog
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Eu não visto a camisa da empresa
Acho que todo mundo já deve ter escutado (ou até usado) a expressão "vestir a camisa da empresa". Isso geralmente é o que o seu gerente diz quando ele quer que você faça hora extra de graça no fim de semana. É uma maneira usada para te pressionar, como que dizendo que, já que você não se preocupa com a empresa, ela também não vai se preocupar com você. Mas tem um detalhe importante que ele não percebe: a sua empresa já não se preocupa com você.
Eu comecei a trabalhar na área relativamente cedo. Com 15 anos eu era monitor da finada Data Control, e com 16 anos eu estava trabalhando de diagramador para um jornal de uma cidade pequena. Depois disso, já com 17 anos, eu comecei a fazer softwares e arrumar computadores. Hoje eu sei que isso foi muito bom para mim, pois eu já comecei a ser enganado desde cedo. Além de acreditar nas promessas que me faziam e nessa estória de "vestir a camisa da empresa", eu trabalhei muito de graça para pessoas que se aproveitavam da minha total falta de experiência com negociações. Hoje eu vejo que isso não tem nada a ver com a idade, porque eu conheço vários programadores com quase 30 anos que têm o mesmo problema. E vejo também profissionais de outras áreas também passarem pelo mesmo problema, inclusive o de trabalhar de graça quando esse não era o combinado.
Uma das coisas que eu sempre digo é que salário não é, e nunca foi sinônimo de competência. O sujeito que ganha mais é aquele que melhor sabe negociar seu salário e que cede menos às pressões para que seu salário seja abaixado. Existem inúmeras pessoas que reclamam que "eu programo melhor do que ele e ele ganha mais do que eu". Infelizmente é exatamente assim que as coisas funcionam, porque as empresas só valorizam as pessoas que tem um bom conhecimento técnico quando elas mesmas começam a se valorizar, e não se rebaixam mais a trabalhar por salário baixo. Para muitas empresas não existe um salário para cada competência, existe o mínimo possível que a empresa consegue te pagar. Quem já fez entrevista ou trabalhou em várias consultorias (as grandes inclusive) sabe bem o que estou falando.
Eu não visto a camisa de empresa nenhuma pelo simples fato de que nenhuma empresa até hoje vestiu a minha camisa. E olha que eu não peço muito, só que me deixem trabalhar em paz. É tão simples deixar um programador feliz... Dê-lhe uma máquina boa, pague-o em dia conforme o combinado, e o deixe trabalhar. Espero que algum dia as empresas percebam (com algumas grandes já perceberam) a quantidade de talentos e de produtividade que eles jogam fora por causa da forma que eles tratam os programadores (e funcionários em geral). Em duas empresas que eu trabalhei acontecia sempre a mesma coisa: de dois em dois anos pelo menos metade dos programadores pediam demissão. Profissionais muito bons, que saiam da empresa porque não tinham a mínima condição de trabalho. Será que os donos eram tão burros a ponto de não perceber a quantidade de dinheiro e potencial que eles estavam perdendo?
A primeira coisa que eu pergunto para os funcionários de uma empresa quando eu entro: "Vão me deixar trabalhar? Ou eu vou ter que ficar lidando com briguinhas políticas ridículas e babaquices afins?". Sou, como eu disse, igual à grande maioria dos programadores, a única coisa que eu peço é poder trabalhar em paz (Como eu estou conseguindo fazer no meu emprego atual. Por isso que estou trabalhando aqui até hoje, mesmo sabendo que a APINFO está cheia de oportunidades.).
Esse jeito de tratar profissionais tem um nome, cunhado pelo meu sábio amigo/sócio Gilberto: "Sindrome do super-administrador". Muitos administradores de empresa se acham mais competentes a medida que eles conseguem extrair o máximo de trabalho dos funcionários pagando o MSP ("menor salário possível"). Eu conheço várias empresas que, se pudessem, descontariam dos funcionários a CPMF retida no pagamento dos salários. Se você acha que eu estou exagerando, você provavelmente não tem muita experiência na área ou é muito sortudo. A boa notícia é que a medida que você troca de empresas e se depara com super-administradores, você aprende a lidar com eles e se esquivar dos truques mais comuns.
PS: Antes que alguém pergunte, eu não sou comunista, sou um capitalista convicto e presto serviço para bolsa de valores com muito orgulho. Eu só acho que, mediante a tudo que eu escrevi, dá para entender porque as empresas de software brasileiras são pequenas e muitas vezes inexpressivas em nichos de mercado que tem potencial de crescimento de 20% ao ano...
PS2: Alguém pode me dizer o que quer dizer esse "PS" que usamos nas observações?
Em 13/06/2005 14:01, por Rodrigo Strauss
PS = Post Scriptium (Não sei se a grafia esta correta, mas é isso que significa)